A notável carreira de escritor e educador começa com muita dedicação e desde muito cedo para o Doutor Miguel Vieira Ferreira. Com apenas 21 anos muitos de seus artigos e escritos foram publicados no jornal “Correio Mercantil” e na “Revista Popular”. Em 1861, com apenas 24 anos, Doutor Miguel Vieira Ferreira publicou seu primeiro livro: “O Ensaio sobre a Filosofia Natural ou Estudos Cosmológicos”.

Em 1862, defendeu suas teses de Doutorado em Ciências Matemáticas e Físicas diante do Imperador D. Pedro II, obtendo aprovação com louvor e sendo um dos primeiros Doutores por defesa de tese em nosso país!

Em 1863, ainda como militar, publicou um livro denominado A Questão Anglo Brasileira: Opúsculo1Rio de Janeiro. Typ. Popular de Azevedo Leite. em que trata de uma disputa de limites marítimos entre Brasil e Inglaterra.

Retornando à São Luís em meados de 1866 publicou o Folheto Considerações sobre o progresso material da província do Maranhão2São Luís: Tipografia Frias, 1866., sendo que neste mesmo ano retomou as publicações do periódico chamado O Artista, cujo redator originário tinha sido seu pai desde 1862.

Após a queda do Partido Liberal na Capital do Império em 1868, fundou um jornal que tomou o nome de O Liberal do Maranhão, onde passou a divulgar os ideais liberais de que era adepto.

Foi idealizador e fundador do projeto “Educandos Industriais” (1869) que consistia em educar pobres e desvalidos, ensinando-os através da Indústria a ter o conhecimento para seu trabalho e enobrecimento de sua alma.

Republicano histórico, foi um dos cinco primeiros redatores da folha “A República”, sendo fundada em 1870. Neste jornal, defendeu bravamente a causa da libertação dos escravizados, querendo a verdadeira remissão dos cativos e, se estas ideias tivessem sido aceitas, a libertação teria sido feita de forma eficaz e sem abalo para o país.

Pioneiro da educação mista no Brasil, fundou a “Escola do Povo” (1873) e proporcionou às mulheres garantias de instrução, lutando para que as mesmas tivessem acesso aos mesmos direitos e deveres aplicados aos homens. Um aspecto muito interessante desta escola, é o seu cunho gratuito.

Oportuno destacar sobre a Escola do Povo, parte do que consta no Álbum de Portugueses e Brasileiros Iminentes3Álbum de Portugueses e Brasileiros Iminentes. Fascículo XVII – pág. 39 e 40. com o propósito de se conferir como a esta era aclamada:

A fundação em 1873, da escola a que deu essa singela, mas significativa denominação – O Povo – é mais um testemunho eloquentíssimo da verdade da nossa asserção.

Nessa escola regia várias cadeiras com uma proficiência especial e verdadeiramente privilegiada, porque é assombroso como um homem daquela estatura pode ajeitar-se a capacidades tão duvidosas e acanhadas, a compreensões tão escassas, a disposições tão indecisas e a almas tão tenras. Pois foi um preceptor distintíssimo, um mestre em toda a acepção da palavra, um educador sobremaneira célebre e aclamado.

Não se contentava com as lições cotidianas e ordinárias, fazia conferências repetidas, atraindo sempre e agrupando, em volta da sua palavra fluente e fácil, numerosíssimos auditórios, nos quais sobressaíam, por vezes, reconhecidas celebridades.

O programa adotado na Escola do Povo foi um incentivo; teve muitos imitadores e essa imitação era a sua glória.

Uma verdadeira revolução escolar produziu aquele instituto que, sendo gratuito, sobrelevava, em sistema e em resultados, aos mais graduados e mais afamados.

No próprio ensino oficial se sentiram seus efeitos, porque até as escolas do governo lhe seguiram os exemplos e lhe imitaram e copiaram os processos

Em 1891 publica, porque não dizer assim, o seu maior legado, o livro intitulado – O Cristo no Júri: Liberdade de Consciência – onde pôde descrever em detalhes sua luta pela verdade e quão arcaico o país ainda se encontrava em termos de Liberdade de Consciência.

Eis aqui como o Doutor Miguel Vieira Ferreira defende a Constituição Brasileira e sustenta que, apenas invocando o código fundamental, sua petição deveria ser imediatamente atendida. Este livro é a “afirmação de muitos princípios que hão de ser, ainda, a LUZ DO MUNDO”4Álbum de Portugueses e Brasileiros Eminentes – Fascículo XV – Pág. 96

Cabe ainda destacar outros trechos do livro Álbum de Portugueses e Brasileiros Eminentes (link para o livro digitalizado) que explicitam a dedicação do Doutor Miguel como Escritor e Educador:

Entre os seus muitos escritos é difícil preferir uns sem fazer injustiça a outros. São todos dignos dos assuntos e dignos da capacidade de quem os tratou. Há, porém, uns que sobremodo nos encantam e nos admiram: os de Economia Política.

É digna de ver-se a intrepidez com que o Dr. Vieira Ferreira investe com teorias, que estavam como que consagradas, que eram tidas na conta de invulneráveis! Como ele põe todos os problemas dessa ciência importantíssima e fundamental numa luz nova, sob pontos de vista nunca cogitados; como de princípios assentes e incontroversos tira conclusões que nenhuma investigação conseguirá ainda tirar!

As suas ideias sobre todas as questões essenciais, que nessa ciência se estudam e debatem são apresentadas com uma lucidez maravilhosa, são postas de um modo indestrutível. Parece outra nas suas mãos esta ciência chamada Economia Política!

Em apertada síntese, foram destacados acima algumas das Publicações e Escritos do Doutor Miguel e sobre o Doutor Miguel, cabendo por fim dar ênfase em suas próprias palavras quanto ao seu propósito maior, voltado sempre para instrução e bem estar de seus semelhantes, ao afirmar em um de seus livros5O Cristo no Júri – Liberdade de Consciência. Ed. 1891. Pág. 251 que: “A minha missão, a minha obra, o meu fim, o meu dever, em suma, é instruir, dar luz, mostrar a todos a verdade que eu tiver”.

Referências Bibliográficas