A vida do Doutor Miguel como Militar está diretamente relacionada com a de Engenheiro, eis que estudou e graduou-se como Engenheiro Militar.

Para melhor elucidação deste contexto, oportuno citar o que se acha consignado no Álbum de Portugueses e Brasileiros Eminentes1Álbum de Portugueses e Brasileiros Eminentes Fascículos XVII, pág. 48, a saber:

“[…] Deixando sua família e província natal, matriculou-se na antiga Escola Militar do Rio de Janeiro, depois Escola Central do Império do Brasil e atualmente Escola Politécnica, e em 1º de dezembro de 1859, dia em que completava o seu 22º aniversário, recebeu o grau de bacharel em Ciências Matemáticas e Físicas; e aos 17 de outubro de 1863 lhe foi conferido o grau de DOUTOR nestas ciências por brilhante defesa de tese que, aos 3 de julho desse mesmo ano, sustentou perante a respectiva congregação, na presença de toda a escola e numerosíssimo auditório, com assistência do Imperador e sua comitiva; e obtendo aprovação plena”.

Assentou praça como Primeiro-Cadete do Exército Brasileiro, no Maranhão, a 23 de janeiro de 1855. Foi promovido a Alferes aluno do Exército em 14 de março de 1857, como prêmio por seus estudos. Alcançou a patente de Segundo-Tenente do Corpo de Engenheiros, também por estudos, a 4 de junho de 1859.

Ainda estudante, foi ajudante do Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, sob a direção do Conselheiro General Antônio Manuel de Melo.

Depois de formado, seguiu como membro da comissão demarcadora de limites entre o Brasil e o Peru, servindo sob o comando do então Capitão Tenente da Armada Nacional, José da Costa Azevedo, depois Barão do Ladário, que desde essa época tornou-se seu íntimo amigo.

Dentro deste contexto, salienta-se que2Álbum de Portugueses e Brasileiros Eminentes, Fascículos XVII, pág. 36:

“Quando Oficial do Corpo de Engenheiros, escreveu muito e muito sobre os assuntos da sua profissão desse tempo. Memórias, projetos sobre canais, diques, docas, pontes. São dignos de ver-se esses exemplares, e tanto como eles os desenhos, os traçados, as plantas que os ilustram e completam”.

Para melhor evidenciar o trabalho do Doutor Miguel como Engenheiro Militar, imperioso destacar dentre seus inúmeros feitos, os seguintes3Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão, 3ª edição – páginas 428 e 707

(i) Plano e orçamento para construção de uma ponte no rio Mocambo, comarca do Brejo, o qual foi levado a efeito por arrematação;

(ii) Plano e orçamento para a desobstrução do rio Mearim, onde os vapores batiam nas pedras, causando perdas materiais e humanas. Segundo o Doutor Miguel, por ser o principal rio da Província do Maranhão, a desobstrução ajudaria grande partes dos lavradores por facilitar a navegação, trazendo ganhos econômicos para a Província;

(iii) Projeto e orçamento de um dique para construções mercantes na praia de Santo Antônio;

(iv) Estudo sobre aplicação da luz elétrica dos fundos dos rios e em geral dos lugares de pouca profundidade, como desta cachoeira – Trecho do artigo “Cachoeira do Rio Itapecuru” publicado pelo Doutor Miguel na Revista Popular de 14/01/1861;

(v) Construção do vapor Pindaré, na Casa de Fundição da Companhia de Navegação Fluvial do Maranhão, onde ocupou o cargo de diretor. Empregando artistas brasileiros e maranhenses, o Pindaré foi o primeiro vapor a sair da oficina e cuja qualidade de construção era muito superior a similares estrangeiros e ainda por um custo menor.

Observe-se que somente podiam pertencer ao Quadro dos Oficiais Engenheiros do Exército aqueles que obtinham aprovações todas plenas.

Importante destacar que em 1 º de junho de 1864, o então Segundo Tenente do Exército Brasileiro, achando-se convalescendo de gravíssima enfermidade, pediu licença de seu posto e sendo essa negada, pediu demissão para poder tratar de sua saúde no Maranhão, o que foi negado pelo Ministro da Guerra, General e Conselheiro Antônio Manuel de Mello, o qual após insistência do Doutor Miguel, entendeu por bem encaminhá-lo ao Maranhão para lá ser Engenheiro daquela Província, a saber 4Sublime Amor – Os Vieiras Ferreiras na História do Brasil e na História Universal. Ed. Drumond. Pág. 51:

“Enquanto eu for Ministro da Guerra, o Corpo de Engenheiros e o Exército Brasileiro não serão privados de um oficial como o senhor. No meu Ministério o senhor jamais terá demissão. O Doutor Miguel insistiu: Mas, senhor Ministro, o meu estado de saúde é grave, vossa excelência bem o vê. – Vejo, respondeu o Ministro. E é por isto mesmo que lhe nego a licença; para obtê-la legalmente seria preciso delongas para satisfazer aos trâmites da lei, e o caso urge. Mas apareça-me amanhã, às 11 horas, na Secretaria da Guerra, por que achará tudo pronto para ir empregado como engenheiro daquela Província, irá ganhando; tendo as passagens e podendo seguir já depois de amanhã.”

Observe-se, também, que, dos aproximadamente trezentos alunos que se matricularam no curso de Engenharia, somente uns dez se bacharelaram, e dentre eles, o Doutor Miguel foi o único a doutorar-se. À época, no Brasil, não havia mais de uma dúzia de doutores em Ciências Matemáticas e Físicas que o fossem por defesa de tese. Os que existiam fora desse pequeno número, o foram por decreto.

Referências Bibliográficas